New-media num museu? – Parte II


Nesta série de artigos, e do lado das experiencias positivas em museologia, aplicando novas tecnologias, temos de relatar algumas conhecidas.

Uma experiencia continuada na aplicação de tecnologias a museus, é uma experiencia real e em curso, e que dá um background de tal modo vasto, de tal modo conclusivo, de tal modo rico, que na realidade só um verdadeiro especialista o pode entender. Acho que poucos em Portugal o entendem. Tirem as conclusões que quiserem, mas não digam aquilo que eu não disse!

Refiro-me a uma experiencia que já leva uns bons três anos e que dá pelo nome de  ”Museum Lab – Louvre DNP” e no site do próprio projecto, é descrito como:

“Born of the collaboration between Dai Nippon Printing (DNP) and the Musée du Louvre, the Louvre – DNP Museum Lab joint project seeks to explore new approaches to artworks, particularly through the use of multimedia tools. “

Este é um espaço expositivo (no Japão) em que as novas tecnologias digitais, especialmente as multimedia e interactivas (e note-se que não são a mesma coisa, nem umas implicam as outras), e que procura criar experiencias de visita imersivas e ricas através do recurso a meios digitais para a introdução de conteudos ricos, de ambientes estimulantes, multisensoriais e participativos. Não sei que mais poderiamos querer!  Acho que nada…

Museum Lab – Video <- Vejam este video! É imperdivel.

O objectivo do Museum Lab é meramente experimental, é certo, e é apenas de avaliar a potencialidade das tecnologias e lançar experiencias que, sabendo-se que serão de grande potencial, permitam avaliar o real impacto na forma como o público encara o museu, como participa, como interpreta. Afinar estratégias, valorizar tecnologias, selecionar ideias e modelos, é o principal objectivo. Por isso é um “Lab”. Mas em ambiente real de museu, por isso é Museum Lab.

É certo também que um ambiente de laboratório, declaradamente experimental, permite assumir maiores riscos, experimentar tecnologias menos consensuais, ensaiar protótipos e conceitos mais elaborados (mas provávelmente mais “dificeis”) e provávelmente menos ensaidos, fora do ambiente. Mas em contrapartida, o facto de ser um ambiente real de museu, permite uma total avaliação. E quantidade de tecnologias experiementadas, avaliadas, ensaiadas, fornece já um caixa de ferramentas de luxo, para qualquer museu que não se queira limitar a sistemas mutimedia mais ou menos consensuais e banais, sem real mais valia, a montagens interactivas mais ou menos main stream. e de pouco valor acrescentado. O valor de uma experiência como esta é enorme. Simplesmente está anos luz à frente do que alguma vez foi sequer sonhado para qualquer museu português… e esse e que é o busilis da questão.

Não me apetece dizer que em Portugal estamos na idade da pedra relativamente aos museus. Porque não estamos… já demos um ou dois passos em direcção ao futuro. Faltam agora apenas alguns milhões de outros passos, para nos pormos pelo menos a par da nossa época (mais uma vez, ressalvadas algumas honrosas excepções, principalmente na esfera privada). Ou falta alguma vontade politica… que dote de orçamentos aceitáveis as instituições existentes (e nada disto é assim tão caro, antes pelo contrário), para que, mais do que limpar o pó uma vez por semana, possamos investir na sua modernização ( não só em multimedia ou interactividade!).

Bem sei que um museu moderno rende poucos  votos… na melhor das hipoteses rende pouco mais que os votos dos tecnicos competentes que entendem, e há muito sabem, o que deveria ser feito. Mas há critérios de valor que ultrapassam largamente motivações eleitorais. E os meios são simples. É apenas necessário ter a percepção de como a sociedade mudou, de como a expectativa do publico é diferente, mas fundamentada.

E entender que as mais valias conseguidas ultrapassam, com muito menor custo todos os esforços de formação, de educação e de reconversão de uma sociedade, baseados em meio escolar ou de formação profissional (sem que os excluam, obviamente). É que a capacidade de interpretação, do conhecimento e do mundo que nos rodeia, é a base sine qua non da elevação do nivel cultural, da literacia numa sociedade, e principalmente numa sociedade que se confronta com as transformações com que se defronta a nossa,na actualidade.

E notemos que tenho visto abertura de concursos, em que o peso do multimedia é grande… mas inutil. Inutil porque desenquadrado, porque nada criativo, porque decalcado de outras situações (mas isso e outro assunto). É que a isso não chamo interactividade nem multimedia: chamo electrodomésticos HiTech…e até se pode comprar em 10 vezes sem juros (desde que se subscreva o cartão de fidelização).

E aquilo que um museu vivo, interactivo, motivador, rico em experiências e vivencias, em estimulos e em provocações, em informação e em pistas, fornece, é a capacidade de entender o que de outro modo seriam apenas refugos e restos de um passado.

“In the last fifty years the development world has made the shift from an industrial to an information society. This change, for all its benefits, has led to increasing crime, reduced fertility, unstable family structures, a slump in institutional trust, a drop in confidence and the triumph of individualism over community”. 1
The emergence of the media-market has given more information to more people with the effect of emerging isolation. Bill Gates has changed our world, financially, politically and socially. We are on our way from a society of ‘planners’ to a new ‘risk society’.2 .
Unable to rely on ‘lifelong patterns’, either in our jobs, our relationships ,our class position, or within our social group we have to find new strategies for our everyday life within our changing society. In this context also the work place has changed from being, from a place for production to a place for thinking. Thinking includes also promoting individual creativity which plays a growing importance in both our working and our social lives.
These conditions evoce more focussing on creative problem solving and decision making by developing skills to adapt new situations and structures. We move from an information age to a new ‘learning’ age. 3
“Built environment education is essentially about relationships between people and place. It includes consideration of the built heritage, architecture, planning, environmental design, landscape architecture, public art, building, construction and civil engineering.
It addresses issues of environmental liberacy and participation. It aims to help people understand how the environment has come to be the way it is, what it is not only to develop awareness and understanding of built form, but to involve people in debate about environmental issues and enable them to participate in the processes which shape their environment…Education for sustainable development is about the learning needed to maintain and improve our quality of life and the quality of life of generations to come.
It is about equipping individuals, communities, groups, business and government to live and act sustainably; as well as giving them an understanding of the environmental, social and economic issues involved. It is about preparing the world in which we will live in the next century, and making sure we are not found wanting.”4
___________________
1 Francis Fukuyama, The Great Disraption, p.8
2 Paul Bélanger: lecture held in the Gothenburg conference of the Socrates project MUSAEAM in 1999
3 Sylvia Lahav, The Learning Age” held in the Gothenburg conference of the Socrates project MUSAEAM 1999
4 Sara Selwood, Cultural Trands, Issue 32, 1998, p.87

Relembremos uma citação já usada em artigo anterior:

“The integration of sound and image data into museum collections databases offered a new opportunity for recording the depth of information about works in museum collections, and interpreting their significance. New interactive multimedia interpretive tools also provided ways of communicating the rich context and meaning embodied by museum artifacts.”

Não podemos concordar mais!!!…com as devidas correcções, referentes a novas possibilidades que nem os maiores gurus da tecnologia terão previsto, pelo menos da maneira exacta que aconteceram e que, mais do que contrariar algo, apenas estenderam as possibilidades e a pertinência do caminho indicado.

 

Uma série de artigos:

 

New-media num museu? – Parte I
New-media num museu? – Parte II
New-media num museu? – Parte III
New-media num museu? – Parte IV
New Media num museu? – Parte V


2 opiniões sobre “New-media num museu? – Parte II

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