Design, para quê?

No meu périplo periódico por sites de referência, webzines e publicações  deparei-me já várias vezes com entrevistas, nomeadamente a directores de marketing, responsáveis de produto, gestores ou directores comerciais, em que uma pergunta se repete: “Porquê a aposta no design?” Ou dito de outra maneira, “Objectivamente, quais as vantagens que a marca vê na incorporação de design?”

Invariávelmente abro a boca até às orelhas com as respostas. A última resposta de que me recordo foi

“O design cria-nos vantagens competitivas !” (sic)

OK… nem duvido que crie… mas mal estamos quando o design se usa porque cria vantagens competitivas!!! 

Mas … o que é o design?

“Denomina-se design qualquer processo técnico e criativo relacionado à configuração, concepção, elaboração e especificação de um artefato. Esse processo normalmente é orientado por uma intenção ou objetivo, ou para a solução de um problema. ”
in WikiPedia -> Design

“O termo deriva, originalmente, de designare, palavra em latim, sendo mais tarde adaptado para o inglês design. Houve uma série de tentativas de tradução do termo, mas os possíveis nomes como projética industrial acabaram em desuso.”  
in WikiPedia -> Design

Nem mais seria preciso, mas mesmo assim… refraseando e acrescentanto:

Design é o acto criativo e prático, e o resultado conceptual desse acto, pelo qual se projecta um objecto ou artefacto, com um conjunto de objectivos estéticos, utilitários, funcionais, comerciais, industriais ou comunicacionais.

Li uma vez uma frase em que se definia o acto de “Design” (e cito de memória) como o acto pelo qual se conjuga, no projecto da realidade, a emoção e a razão, na busca da eficácia funcional e estética.

E, sob este ponto de vista, design não é mais que o próprio projecto de objectos (em sentido amplo) ou produtos (de  todo o tipo), de modo a produzir resultados optimos (segundo certos critérios). 

Ora muito bem; Começo agora a entender aquela resposta… é aqui que certamente se enquadra, então, a história das vantagens competitivas: estas deverão conduzir a resultados optimos (segundo certos critérios)… será? Certamente que sim! Mas dizer que se aposta no design porque traz vantagens competitivas, poderia ser comparado a um produtor de automóveis que dissesse que punha motor nos seus veículos, porque assim vende mais… E não é que eu nem duvidaria?! O facto é que, ainda que venda mais, não é por essa razão que se põe motor nos automóveis: é porque, entre várias outras razões, e certamente não menos importante, ter motor ser uma das caracteristicas de definição de automóvel! Seria portanto absurdo fabricar um automóvel sem motor…é que nesse caso teriamos que lhe atrelar animais, e seria uma carroça…e certamente venderia menos, não duvido!

Também na concepção de produtos, seja de forma declarada ou não, qualquer acto de projecto do produto é um acto de design: já outra conversa é saber o nivel de qualidade desse projecto, logo o nivel de qualidade do design; e bem assim o nível estético, o nível de eficácia do processo produtivo, o nivel de funcionalidade do produto resultante, etc.

Concordo aqui, que a resposta que me rasgou a boca de espanto, não passa de um gigantesco equivoco por omissão: a vantagem competitiva, não é dada pela “incorporação de design”, é dada, isso sim, pela qualidade do design incorporado.

E aqui sim, já não me espantaria! É que para um director de Marketing, um gestor, um director comercial, a qualidade do design pode ser uma opção fundamental e uma arma para efectivamente criar vantagens competitivas: a qualidade do design pode de facto distinguir um produto ou uma marca, um objecto ou uma embalagem, um aparelho ou um serviço, e fazer a diferença num mercado competitivo, onde o consumidor cada vez mais avalia a qualidade (em sentido lato) do produto oferecido.

Por outro lado, que ninguém diga que produz um produto sem design, só porque no departamento de concepção de produto não há ninguém com essa designação e função… de facto, o que produz é um produto com mau design, efectuado por alguém sem preparação e formação adequada… incompetente como designer, então. Outra coisa é se, na prática, quem tem sensibilidade para os aspectos práticos, funcionais, técnicos ou estéticos, e lhe junta a experiência, pode ou não realizar bom design, mesmo sem a formação de base. E ái não tenho dúvidas de que sim, é provável, certamente em muitos casos. Mas esse é um aspecto completamente diferente da questão.

A facilidade de linguagem criou pois uma armadilha, que resulta certamente numa ideia que é completamente errada, ou seja, a de que o design é uma opção: NÃO É! A opção é entre fazer bem ou mal!… Entre fazer com qualidade ou sem ela. Entre design com qualidade ou sem qualidade. O projecto de produto sem design, não é projecto!… é uma espécie de “vamos indo e vamos vendo o que sai”… e se não sair cadeira, haverá de sair outra coisa qualquer, nem que seja lenha de fogueira…e muitas vezes sai!

E aqui, voltaria então atrás, e diria que, mais que na aposta no design, a vantagem competitiva é criada pela aposta na qualidade! Do design? Sim, certamente! Na mesma medida em que a qualidade nos materiais, a qualidade na embalagem, na forma de comercialização, no serviço pós venda, ou noutra coisa qualquer…

E é nesta perspectiva que afirmo: a pergunta é que está errada, pois devia ser “Porquê apostar na qualidade do design?“, além de que qualquer resposta à pergunta “Porquê apostar no design” tem que ser respondida: “Porque não há como não apostar!” Só isso…